As Xilogravuras do Thiago Modesto

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Thiago Modesto é designer e artista plástico, mora em Jacarepaguá e tem uma coleção de vinis que vai do rock alternativo à música instrumental brasileira.

Quando não está ralando aqui no Sal, ele passa dias e noites rabiscando, pesquisando referências e expondo os seus trabalhos em algum canto do mundo. A última exposição foi lá na Coreia do Sul.

Trocamos uma ideia com ele e fizemos esse vídeo, produzido pelo salgado Lucas Rangel, sobre a sua nova série de Xilogravuras. O cara é fera braba!

– Explica um pouco aí pra gente, o que é Xilo?

A Xilogravura é um processo artesanal em que você produz gravuras cavando a forma em um pedaço de madeira. Depois, você passa tinta por cima e prensa a matriz no papel, o desenho sai ali. Basicamente, é isso. E você pode imprimir quantas vezes quiser.

– E como você começou a trabalhar com esse estilo?

Depois da minha exposição em Seul, há 1 ano e meio, eu decidi fazer algo mais manual. Nas ilustrações que fazia, eu usava muito o computador e fiquei meio saturado disso. Eu já uso o computador na maior parte do meu dia, trabalhando e fazendo freelas, e fiquei de saco cheio. A Xilo é a minha fuga. É um processo completamente artesanal.

– Como é esse processo?

A Xilo é a técnica de gravura mais antiga, mais simples e mais direta. É bruta. Tem que fazer força pra cacete, você cansa o braço, respira pó de madeira, se cansa todo. É o peão da gravura. O lugar onde a Xilo ganhou mais notoriedade no Brasil foi o Nordeste, com a literatura de cordel.

Os materiais do ateliê: thiner, tinta tipográfica, estopa, rolo, prensa. Foto: Lucas Rangel

– Quanto tempo leva, mais ou menos, para uma gravura ficar pronta?

É um projeto que demora no mínimo um mês pra ficar pronto. A minha cabeça de designer me ajuda a planejar primeiro o que eu vou fazer. Faço estudos, vejo o equilíbrio do desenho e como todos os elementos devem conversar no papel. O computador, agora, é só uma parte do processo, onde eu procuro referências, faço colagens com pedaços de imagens aleatórias, estudo as posições e imprimo vários esboços. Depois, eu desenho à mão.

– E qual foi o conceito desse novo trabalho?

Eu não me prendo a um conceito no começo. Eu tenho uma ideia na cabeça e espero ela tomar forma para depois pensar no conjunto. A temática gira em torno da transformação, em todos os seus significados.

Durante o processo de entintagem, ao som de Hurtmold na vitrola. Foto: Lucas Rangel

Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.

Manoel de Barros

A primeira cópia, "Imprecisão", da nova série de gravuras. Foto: Lucas Rangel

– Mas o que significa transformação pra você?

Então, eu representei o pássaro porque, na minha opinião, é o ser mais livre que existe. Ele pode voar pra onde quiser. Mas se você pegar um pássaro na mão, vai ver que ele é muito, muito frágil. É como se você não pudesse pegá-lo. As minhas gravuras falam de transformação e sempre têm ligação com a natureza e os animais. É um pouco Manoel de Barros, assim. Ele fala muito disso nos poemas, sobre olhar pro chão, observar as formigas, a cor das lagartas, a lesma caminhando na parede. É meio sinestésico. Também tem um paralelo com a liberdade, de se conectar com algo mais orgânico e fugir das obrigações de todo dia – como ter que pagar as contas – e outros clichês.

Outro motivo de fazer gravura é porque eu acredito que a arte tem que ser para todos. E a gravura torna o valor mais acessível, por poder ser replicada em 10, 20 tiragens. Assim, várias pessoas podem tê-las em casa. Não é só 1, mas são 10 pessoas que se sentem conectadas àquele trabalho – aquilo significa alguma coisa pra elas. E cada uma tem a sua interpretação.

 

A vitrolinha em ação. Foto: Lucas Rangel

– E a música te ajuda nisso?

A música é uma parte fundamental da minha vida, e a questão do vinil tem a ver com se conectar fisicamente com a música. Colecionar discos me traz esse prazer de ouvir. Ouvindo música pela internet, você pode mudar de música toda hora. No disco é ao contrário, você normalmente ouve ele inteiro, é uma ligação muito mais forte.

Pra conhecer mais sobre o trabalho do Thiago, é só entrar no Facebook ou no site dele.

Tags: Arte, Exposição, Sal, Vídeo

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