Chloé Calmon no topo do mundo
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Antes de arrumar as malas e partir para a primeira etapa do circuito mundial de longboard na Papua Nova Guiné, no último mês de março, Chloé Calmon não sabia direito o que esperar do lugar, das pessoas e das ondas. Mas acabou voltando de lá com o título de campeã da etapa mundial, muitas lembranças boas e um sorriso no rosto.
O que você esperava da Papua Nova Guiné antes de chegar?
Na verdade, foi tudo na correria e eu não tive tempo para pensar sobre o assunto. Essa etapa foi confirmada com um mês de antecedência, e eu não pesquisei nada antes de ir. Eu senti que estava pisando no desconhecido, mas sabia que seria uma experiência incrível porque, além de ser um lugar maravilhoso, era o primeiro campeonato de surfe lá.
Compartilhando sorrisos com os locais. Foto: Arquivo da Chloé
Como foi a experiência lá?
Eu passei duas semanas lá. Cheguei quatro dias antes do campeonato e, depois que acabou, fiquei por mais dois. Quando a gente chegou, o mar estava bem pequeno e eu pude conhecer alguns picos ao redor. Foi bom sair um pouco do surfcamp, interagir com os locais, conhecer praias diferentes e dirigir no meio da selva. Teve um dia em que eu saí andando meio sem rumo pelos corais e acabei encontrando uma outra praia alucinante. Foi um momento especial.
Os abraços da vitória. Fotos: Arquivo da Chloé
Como era a relação com os locais?
Foi muito legal, porque o surfcamp era aberto para as pessoas das vilas vizinhas, que andavam até 10 km só pra ver a gente competindo. Não sei exatamente quantas pessoas tinha, mas foi um dos maiores crowds assistindo a uma competição de que eu já participei. Eles gritavam e pulavam tanto que o chão chegava a tremer.
Quando eu saí da final nos braços dos meus amigos, que falavam que eu era brasileira e tinha sido a campeã, a arquibancada inteira parou de ver a final masculina, virou pra mim e começou a gritar. Foi emocionante. Eu tentei abraçar e falar com o máximo de pessoas que consegui, porque senti que eles mandaram uma energia muito boa enquanto eu tava na água.
O público compareceu em peso para o 1º campeonato mundial de surfe no país. Foto: WSL
Qual foi a onda que você mais gostou?
Pra mim, foi a do campeonato, Tupira. Quando as baterias começaram, entrou um swell histórico, ondas de 6 a 8 pés, tubulares, um dos melhores mares que eu já peguei em uma competição. Mesmo sendo uma direita, que não é o meu forte (sou goofy, né!). Eu fui pra Papua pensando que ia ser difícil, mas acabei criando uma sintonia muito forte com aquela onda e fiquei muito à vontade no mar. Só de lembrar de como eu me senti, tenho a certeza de que foi a minha onda preferida.
Foi emoção desde a onda da vitória até ao lugar mais alto do pódio. Fotos: Arquivo da Chloé
E durante as baterias, deu pra segurar o nervosismo?
Esse campeonato foi um ponto fora da curva no quesito nervosismo e ansiedade. Eu sou uma pessoa muito competitiva e boto tudo de mim, sempre. Cada detalhe faz toda a diferença. Nas outras competições, eu sentia que estava no meu auge técnico, físico e mental, mas, no momento mais decisivo, eu ficava nervosa e acabava perdendo. Na China, aconteceu isso.
Como eu não sabia muito bem o que esperar dessa viagem, não me planejei muito e nem botei muita expectativa. Acho que o fato de ter ido com menos cobrança e deixando as coisas acontecerem de maneira natural me tranquilizou, e isso acabou influenciando o meu modo de competir. Eu sempre sonhei com esse momento de ouvir que eu era a primeira do mundo, mas aconteceu de uma forma completamente diferente da que eu tinha imaginado. Ainda é difícil acreditar que é real.
O que mais te surpreendeu?
Depois do campeonato, rolou uma cerimônia de encerramento com danças e músicas de várias tribos diferentes. Quando nos chamaram para a premiação, cada atleta ganhou um troféu pela participação feito pelos locais – um totem de madeira com um surfista carregando uma prancha. Também resolveram premiar os competidores nas categorias Melhor Noserider, Melhor Tubo e Melhor Wipeout. Uma das minhas maiores surpresas foi ter ganhado o Melhor Noserider feminino. Voltei pro quarto com três troféus, não tinha nem mão pra carregar direito!
Meu objetivo ainda é ser campeã mundial, mas eu quero viver cada momento até chegar lá, pra tornar tudo mais prazeroso.
Depois de muito suor e superação, o 1º título. Foto: WSL
E o que você espera pra este ano?
Eu estabeleci uma meta, de que este ano eu vou aproveitar mais a jornada do que o destino final. O meu objetivo ainda é ser campeã mundial, mas eu quero viver cada momento até chegar lá, pra tornar tudo mais prazeroso. Eu vou curtir essa vitória com os meus amigos, com a minha família, e continuar a minha rotina de treinamento. Estou me planejando para correr algumas etapas do LQS, mas ainda não sei bem quais. Também estou animada, porque no fim do ano vai rolar mais uma etapa pra decidir o título, em Taiwan, um lugar ao qual eu nunca fui. Então, eu pretendo ir com esse mesmo pensamento, sem expectativa e sem muitos planos, vivendo cada dia de uma vez.
Tags: Canal OFF, Entrevista, Oceano, Surfe, Viagem
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