David Bowie Is Making Contact
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Texto por Maria Fontenelle
Quem nunca dançou de olhos bem apertados ao som de Modern Love em uma festa? Quem nunca ficou arrepiado ao ouvir Heroes? Conhecer David Bowie é se apaixonar por ele. Igual a um namoro, quanto mais intimidade, mais você ama as suas peculiaridades. E como uma paixão louca, ele sempre te surpreende.
Há um ano, dois dias depois de completar 69 anos e do lançamento do seu último disco, Bowie nos surpreendeu com a sua morte, sem que soubéssemos sequer que estava doente. Foi a primeira morte de uma pessoa que eu não conhecia que eu realmente senti. A segunda surpresa foi ver o impacto que isso teve no mundo, um mundo em que todos pareciam sentir o mesmo luto.
Para algumas pessoas, a conquista do Bowie começa pelas músicas; para outras, pelo visual. Eu nem lembro o que me pegou primeiro, mas tudo se intensificou quando visitei a exposição David Bowie Is, no Victoria & Albert Museum em Londres, em 2013. Você colocava o fone e tocava Space Oddity enquanto você lia uma matéria do homem pisando na lua. A faixa mudava de acordo com o que você estava vendo no momento, ou em frente ao figurino do Alexander McQueen ou a uma letra escrita à mão.
Ingresso da exposição no V&A em Londres, 2013. Foto: Maria Fontenelle
Nos últimos anos, o seu impacto cultural se tornou ainda mais evidente. Quando o Bowie começou a vestir as roupas unissex do estilista japonês Kansai Yamamoto nos anos 70, a homossexualidade mal tinha sido legalizada na Inglaterra. Ele literalmente introduziu para o mainstream a ideia não só de uma sexualidade mais flexível, mas de um individualismo, de ser o que queremos ser abertamente. Não podia ser mais relevante hoje.
David Bowie em 1973. Foto: Masayoshi Sukita / Collant desenhado por Kansai Yamamoto para a turnê de Aladdin Sane, 1973
Do ponto de vista do branding, Bowie sempre fez tudo certo: foi totalmente inovador quando se lançou, manteve um padrão de altíssima qualidade em tudo o que produziu, buscou as parcerias e colaborações artísticas certas e, mesmo estando em constante mutação, foi coeso e consistente até a última entrega. David Bowie não é só uma pessoa, ele também é uma marca. Uma marca cativante, fascinante e muito bem-sucedida.
Letra de Ziggy Stardust / Letra de Heroes
Não dá pra medir a influência de uma pessoa dessas. Saiu da cultura do rock, virou parte da cultura popular, e depois da cultura em massa.
E que outras surpresas o Starman deixou pra nós terráqueos? Em primeiro lugar, Blackstar, seu 25º disco. Gravado em segredo e lançado dois dias antes da sua morte, com letras cheias de insinuações de sua partida. “Something happened on the day he died” (Blackstar) e “Look up here, I’m in heaven” (Lazarus) são apenas dois exemplos.
Mas não parou por aí. Em setembro de 2016, saiu um box set com um disco inédito, The Gouster, que tinha sido gravado em 1974. E, em outubro, mais três faixas que não apareceram no Blackstar foram lançadas no disco do Lazarus, o musical que ele produziu alguns meses antes de morrer. Pelo que o produtor Tony Visconti falou, tem mais material a ser lançado nos próximos anos. Obrigada, Bowie, porque a saudade bate forte.
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