“Ver Rever”: Expressão e Lógica por Antonio Bokel
terça-feira, 20 de março de 2018
Pense nos jardins do Palácio de Versalhes e todo o seu planejamento estrutural. Agora pense numa floresta e em toda a sua selvageria eminente. Se para a lógica humana o selvagem representa o caos, do ponto de vista natural das coisas, “o selvagem é o que se tem de mais harmônico”. Divide conosco Antonio Bokel, um artista plástico carioca com influência direta no neo-expressionismo.
Fomos até a Casa Voa conversar com o Bokel sobre a individual “Ver Rever”, que fica exposta no Centro Cultural dos Correios do Rio até o final de março. Falamos também sobre todo o significado de reinvenção pessoal que envolve a expressão artística dele.
Antonio Bokel em seu ateliê, na Casa Voa. Foto: Juarez Escosteguy
A coleção contempla mais de 30 obras que se dividem entre esculturas, pinturas, instalações e interferências fotográficas. São intervenções inéditas em obras homólogas, que retratam o constante movimento de mudança em que ele vive. As telas revelam a descontinuidade do artista, o senso de algo que teve início no passado e foi revisitado em outro momento, dando um novo significado visual. As composições se assemelham à lógica transgressora da arte de rua e toda à sua assimetria ruidosa, que ecoa a cada vez que uma nova camada de “lambe-lambe” é adicionada ao cenário.
Meu trabalho nunca está fechado, acabado. Revisitar as obras durante a mudança de ateliê, me estimulou a abrir espaço no antigo para a chegada do novo.
Ateliê novo do Bokel, na Casa Voa. Foto: Juarez Escosteguy
A mostra sintetiza a essência de um artista que acredita na verdade da arte. Corrompe a barreira de uma inquietação humana, que busca manter tudo dentro dos padrões antropológicos de representação de ordem. Bokel contou que essa exposição é o final de um ciclo de 15 anos, regidos de muita pesquisa, dedicação e fluidez entre uma pincelada e outra.
Exposição "Ver Rever". Foto: Henrique Madeira
Bokel na exposição "Ver Rever". Foto: Henrique Madeira
O trabalho dele imprime o movimento urbano pulsante e todo o caos que se desenvolve entre vias e blocos geométricos de concreto, fantasiados pela falsa realidade de “ordem”. É um resgate vanguardista da cultura de “sample”, muito forte em Nova Iorque, durante os anos 70.
Os rabiscos, cores e formas neo-expressionistas de Basquiat são uma grande influência para o trabalho de Bokel.
É o contraste entre a pichação, a forma lógica da arquitetura e o tempo com seus desgastes.
Exposição "Ver Rever". Foto: Henrique Madeira
Nessa releitura, a intensidade jovial da arte de rua se mescla à racionalidade das figuras geométricas. Inflexão de uma alma artística mais madura, que se desvincula de seu lugar comum em busca de movimentos mais simples: “Você aprende a simplificar seus movimentos. A limpeza é um detalhe que às vezes vale mais a pena”. É o contraste entre tempos diferentes de expressão gestual e lógica, que faz o artista se sentir cada vez mais próximo do minimalismo.
Em tempos de distração digital, Bokel tenta não disputar com a tecnologia: “A aceitação também é importante”. A forma que encontrou foi incorporar a esfera digital à sua arte. Inclusive, em Ver Rever uma das obras está intitulada Instagram.
O "Instagram" de Bokel. Foto: Zupi.com.br
A organização da plataforma me remete a uma harmonia oculta, dentro de um acaso: você monta um mosaico de fotos, que não estão relacionadas entre si, mas que estão posicionadas dentro de uma linearidade cronológica.
Durante todo o papo, a simplicidade tomou conta de qualquer manifestação de ego que pudesse existir dentro de Bokel, que garante não ter expectativas sobre o reconhecimento público e nem sente necessidade de compreensão. Ao mesmo tempo em que acredita que sua arte não deve ser catequizada, ele deseja que seu trabalho desperte o espírito criativo nos visitantes da exposição.
Visitação: até 25 de março de 2018, de terça-feira a domingo, das 12h às 19h.
Centro Cultural dos Correios – RJ.
R. Visc. de Itaboraí, 20 – Centro.
Entrada Gratuita.
Tags: Arte, Design, Digital, Entrevista, Exposição, Fotografia, Ilustração, Referência
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