A forma mais poderosa de transmitir uma mensagem

terça-feira, 3 de maio de 2022

Por Rafael Mellin | Fundador e VP de criação do Grupo Sal

Para matar a curiosidade de quem tem tanta pressa que não sabe se chega ao final do texto, deixo aqui, logo de cara, o spoiler do título:

Contar histórias é a forma mais poderosa de transmitir uma mensagem.

A constatação não é minha. Foi feita ao longo dos anos, por um bocado de gente respeitada que estuda a fundo o comportamento humano, tanto do olhar científico quanto cultural.   

Yuval Noah Harari, o historiador mais pop do nosso tempo, é quem melhor explica sobre o papel fundamental que a habilidade de contar histórias teve na sobrevivência da nossa espécie. A humanidade evoluiu contando histórias. E possivelmente, sem elas, não teríamos chegado até aqui.

O ato de contar histórias nos permitiu replicar e acumular conhecimento através das gerações. Passando histórias adiante, avançamos no nosso entendimento do mundo, evitando que cada nova geração tivesse que descobrir sozinha tudo o que seus antepassados penaram para aprender antes. Somos todos contadores de história. Faz parte da nossa evolução, está no nosso DNA.

Assim como um monte de crianças, comecei a contar histórias desde bem pequeno. Os desenhos de dragões no papel e as brincadeiras de Comandos em Ação já tinham sua própria narrativa. Tinham tema, plot, objeto do desejo, reação de clímax… Eu, claro, não sabia. Mas os elementos já estavam todos lá.

Mais tarde, a escolha pela formação em jornalismo foi um jeito de continuar contando histórias. Assim como foram os primeiros vídeos de surfe que me metia a fazer junto com o Rafael Gross, ainda moleques na faculdade. Foi essa mesma vontade de compartilhar histórias, cada vez com mais gente, que abriu as portas para o universo da TV e da publicidade. E do encontro com o Marcelus Viana – um cara que adora contar histórias através do design – nasceu o Grupo Sal.

África 360º, Canal OFF

No Sal, depois de anos fuçando, experimentando, criando e produzindo conteúdo em forma de histórias, esbarrei nas obras do Robert McKee – um sujeito tão devoto à arte de contar histórias, que dedicou 50 anos ao desenvolvimento de técnicas e teorias que ajudaram a estruturar algumas das mais famosas histórias contemporâneas. De Friends a Batman, boa parte dos blockbusters de Hollywood ou Netflix tem, direta ou indiretamente, influência dos seus ensinamentos. 

Por pilha do amigo-poeta-diretor Pepê Cézar, um belo dia, lá fomos nós para Nova York assistir ao grande McKee, ao vivo e a cores, no seu quase lendário seminário entitulado – adivinha…– Story. Foram dias intensos anotando freneticamente dúzias de ensinamentos preciosos, enquanto o incansável McKee, de 70 e muitos anos (e vigor de 20 e poucos), esbanjava disposição ao falar por horas a fio, sem intervalo e quase sem se sentar.   

Semanas depois, com a cabeça rodopiando de ideias, enquanto organizava as anotações para dividir o aprendizado com a turma do Grupo Sal, percebi que muitas frases anotadas pareciam familiares. Encucado, escavei do laptop antigas anotações e encontrei um guia que montamos para os redatores e editores do Sal, alguns anos antes. E lá estava: “contraste de cenas”, “ritmo de acontecimentos”, “identificação através da emoção”, “formas de provocar reflexão”… 

Vários dos pontos de estrutura da história indicados por McKee estavam descritos ali, de um jeito curiosamente similar, tempos antes de sabermos quem era McKee. Eram fruto do nosso conhecimento empírico ao longo dos anos no Sal, colocando a mão na massa, criando e produzindo histórias para marcas e plataformas de conteúdo todos os dias.  

Todos temos a habilidade de contar histórias. A diferença está na qualidade das narrativas, na técnica, na prática e, principalmente, na nossa imaginação. Assim como existem formas universais na música e na arte, há uma forma universal de contar histórias. Mas não existe uma fórmula exata.

Projeto Olímpico, Canal OFF

E lá se vão vinte e poucos anos experimentando e testando formas e fórmulas. Quase quinze desses anos dedicados à construção do Grupo Sal, uma empresa que tem como objetivo criar e produzir histórias autênticas, reunindo uma turma que gosta de ler, ouvir, aprender e experimentar. Que aprendeu, na prática e na teoria, a criar, adaptar, contar e distribuir histórias que entretêm, explicam, provocam, surpreendem, emocionam e se espalham. 

“Pensar em formato de história é um trabalho duro. É mais difícil, porém mais eficaz.” Quem disse isso foi Jeff Bezzos, o maior vendedor de produtos do planeta, que aplica na sua empresa o processo de contar histórias em tudo que ela faz. 

Hoje, quando pensamos na comunicação das marcas, sabemos que enaltecer os próprios produtos e empresas já não funciona. É preciso contar histórias. Agora, mais do que nunca. 

Marcas estão em busca de significado e relevância. A forma mais eficiente de chegar lá é contando boas histórias. Descobrir um tema fascinante e relevante, e caprichar nessas narrativas, investindo na continuidade com qualidade. Gerar e compartilhar conhecimento, proporcionando uma experiência emocional com significado. 

Acreditamos que histórias são caminhos que a gente percorre para, no final, se conhecer melhor. Contamos histórias para explorar o “como” e os ”porquês” da vida. Para descobrirmos quem somos, como sentimos e percebemos o mundo.

E, por que não, para transformar o mundo também? Afinal, aprendemos na prática que as boas histórias podem – e devem –, ao mesmo tempo, gerar resultado e colaborar com uma mensagem positiva para o mundo. E é nessa missão que seguimos.

Projeto Olímpico, Canal OFF

Bibliografia

Sapiens, uma breve história da humanidade. Yuval Noah Harari. Ed. L&PM, 2017 

Storynomics: Story-driven marketing in the post-advertising world. Robert McKee. Ed. Twelve Books, 2018

Story: Substance, structure, style and the principles of screenwriting. Robert McKee. Ed. HarperCollins, 1997.

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