Um papo com Fedoca

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Fernando Lima, o Fedoca, é um cara cheio de histórias pra contar. Nascido no Posto 5 de Copacabana, ele acompanhou de perto o início do surfe no Brasil, entre o Arpoador e o Píer de Ipanema, e registrou como poucos o que aconteceu nas praias cariocas entre as décadas de 1960 e 1980.

As garotas de Ipanema. Foto: Fedoca

Aos 11 anos, comprou uma madeirite na famosa Serraria Arpoador e não quis mais sair da água. Além de se divertir nas marolas, ele também passou a registrar tudo o que acontecia na praia ao seu redor. Na mesma época, ele ganhou uma Kodak Rio 400 antiga do pai fotógrafo, durante uma viagem para Ouro Preto. Filho de peixe, foi logo aprendendo o que era diafragma, velocidade, ISO, foco e iluminação. Em 68, resolveu levar a prática mais a sério e, no verão seguinte, ganhou uma teleobjetiva 300mm.

Yoga na praia. Foto: Fedoca

“De cara, fotografei a Rainha Elizabeth, o Mick Jagger, o surfe… Tudo misturado.”

Outros ângulos de Ipa, durante a construção do píer. Foto: Fedoca

Sem saber, Fedoca documentou de perto o que ficaria conhecido como a revolução da cultura de praia no Brasil. De 1968 a 1971, ele fotografou de tudo: garotas de biquíni, hippies, surfistas e doidões que viviam na praia. Junto com Gustavo Carreira, foi um dos primeiros fotógrafos de surfe do país. No verão de 71, passou a fotografar surfe profissionalmente e a vender fotografias para os amigos Betão, Ricardo Bocão e Otávio Pacheco. “Tem gente me devendo até hoje!”, brinca.

Partiu surfe? Foto: Fedoca

“Eu tinha uma Nikon, mas não era a mais top, a F2. Eu tinha uma boa lente, mas não era uma Century, que o pessoal da Surfer usava.”

Fedoca

Acelerando na areia. Foto: Fedoca

Apesar de não poder bancar os melhores equipamentos da época, suas imagens eram realmente espetaculares, e não ficavam nem um pouco atrás das fotografias das grandes revistas gringas.

Gerry Lopez ou Rory Russell: quem sabe? Foto: Fedoca

E as ondas do píer eram tão boas assim, ou tem um pouco de exagero saudosista aí?

“Não existe a menor possibilidade de dizer que o píer não influenciou as ondas. O fundo ia se formando no dia, de acordo com a maneira com que a areia era escavada. A única polêmica é sobre quem foram os primeiros a surfar lá, se foi o pessoal de Copacabana (Betão, Bocão, Paulo Proença) ou os de Ipanema (Pessanha, Rico, Otávio Pacheco, Fábio Pacheco). Ou, ainda, a polêmica é se foi o pessoal que morava na Rainha Elizabeth (Marquinhos Paraíba, Carlinhos Cascavel). Eles passavam por lá todo dia e pensavam: “Que diabos tá acontecendo ali?’”

O píer num dia daqueles. Foto: Fedoca

O Píer de Ipanema foi um ícone para a geração carioca nos anos 70. A construção mudou a morfologia do solo e, por isso, a qualidade das ondas. “A gente pegava onda no Arpoador e começou a ver aquela construção tomando vulto e a ouvir que tinha onda lá. Em 71, no meio do primeiro campeonato de pranchinha do Rio, o mar baixou e a gente resolveu dar uma olhada no píer. Essa “olhadinha” durou 3 anos, o campeonato acabou e ninguém mais voltou pro Arpex.”

Rita Lee, a mina de Sampa, no campeonato de Saquarema, em 75. Foto: Fedoca

Música e sorrisos de sobra na areia. Foto: Fedoca

Tags: 70 e Tal, Canal OFF, Entrevista, Fotografia, Sal

Voltar para o blog

Pitadas mensais de criatividade e bom humor para incluir na caixola. Não perca!